O REALINHAMENTO DOS FAIXAS-PRETAS DE KARATE NO BRASIL


                             


 No intervalo de um campeonato brasileiro de karate, o diretor do Departamento Especial de Karate, Fauzi Abdala João, convocou todos os presidentes de federações estaduais presentes ao evento para uma reunião sobre o cadastramento geral de faixas-pretas do Brasil. Quando começou a leitura dos critérios e normas para a consecução deste objetivo, houve discussões acaloradas com intuito de salvaguardar os interesses de cada Federação.

 No tocante a um dos critérios que tratava de rebaixamento de graduação, tive que me posicionar porque eu estava representando o presidente em exercício da Federação Mineira de Karate, Dr. Tércio Naves Sanglard. Fiz uma sucinta explanação, deixando claro que rebaixar a graduação de alguém seria, no mínimo, antiético e desrespeitoso e que a situação poderia ferir direitos adquiridos. Destaquei ainda que caso o fato chegasse aos Tribunais de Justiça seria lastimável para um karate em franca expansão. Sugeri que o item rebaixamento fosse substituído por elevação de graduação, o que foi aceito pelos presidentes por unanimidade.

 Prosseguimos nos debates de outros itens, e para finalizar a reunião o diretor do Departamento Especial de Karate, Fauzi Abdala, determinou às Federações que criassem seus próprios critérios e normas, levando-se em consideração a proibição de rebaixar qualquer graduação e de ultrapassar o 8º Dan, ao elevar uma graduação. Após a conclusão desse realinhamento, as Federações deveriam enviar suas relações de faixas-pretas para serem homologadas pela Confederação Brasileira de Pugilismo.

 Com a determinação do diretor do Departamento, o que era uma simples suspeita passou a ser uma certeza de que o rebaixamento proposto prejudicaria a graduação mais elevada da época, ou seja, a de 8º Dan do mestre Yoshihide Shinzato. Essa graduação eu sempre soube que incomodava alguns mestres de karate.

 Devido ao meu posicionamento contundente naquela reunião, eu que era conhecido apenas no estado de Minas Gerais passei a ser conhecido em todo território nacional, o que para mim foi motivo de orgulho.

 Quando recebi o convite do presidente da Federação Mineira de Karate- FMK, Dr. Marcelo Guimarães Arantes, para ser o Secretario Geral da entidade, eu sabia que teria de enfrentar grandes desafios. Para superá-los contei com a confiança incondicional do presidente da entidade.

  Nessa função fiz amigos e também desafetos. Estes surgiram  devido ao fato de ter que adotar medidas duras e corajosas como, por exemplo, dar transparência ao exame de faixas-pretas, facilitando o sistema de avaliação por nota de 0 a 10, o que possibilitaria implantar a média aritmética entre as notas dos examinadores para se chegar à nota mínima para aprovação, que seria cinco.  Ainda com relação ao exame de graduação, a decisão mais acertada e importante foi a de encerrar todos os trabalhos no próprio local de exame, possibilitando ao candidato obter seu resultado antes de deixar o recinto.  Foi um grande avanço na nossa administração, pois acabaram definitivamente com as reclamações a respeito da lisura nos exames de graduação de faixa-preta.

 Outra atuação marcante foi a respeito do rigor na elaboração dos critérios e das normas para realizarmos, na nossa Federação, o realinhamento na graduação de faixa-preta autorizado pela Confederação Brasileira de Pugilismo, por intermédio do seu Departamento Especial de Karate. Tivemos a preocupação de manter a mesma coerência e senso de justiça que demonstramos na época em que esse Departamento outrora tratara desse tema. Entre os critérios, destacamos o de levar em conta os relevantes serviços prestados ao karate mineiro, e também o de não subir a graduação além de 1(um) grau. Nesse item a única exceção foi a de elevar em 2(dois) graus a graduação do mestre Akyo Yokoyama que subiu de 6º para 8º Dan, tendo em vista ser este o grau máximo determinado pelo Departamento Especial de Karate. Mais uma vez saímos na frente e fomos paradigma para outras Federações que vinham nos solicitar assessoria na elaboração dos seus critérios e normas para também realizar o seu realinhamento de faixas-pretas em seus Estados.