segunda-feira, 22 de junho de 2015

O INÍCIO DO KARATE NO BRASIL

Toru Arakawa  -  Luiz Ernani Ribeiro  -  Tadao Fujimoto

1.   O INÍCIO DO KARATE NO BRASIL   
                             
 Na década de 50, chegaram ao Brasil os primeiros mestres de karate, não para difundir esta arte milenar, e sim exercerem outras atividades principalmente na área agrícola. Alguns aproveitavam seu tempo para ensinar o karate aos seus próprios filhos e também, mais adiante, para os brasileiros amigos de seus filhos.

         Na década seguinte, o Karate tornou-se sinônimo de vitória devido ao sucesso do lutador Fantomas – lutador de luta livre - que iniciou a utilização de técnica inédita com golpes de mão aberta próprios do karate em um programa de luta livre semanalmente transmitido por TV. Ressalta-se que muitos adversários se recusavam a subir no ringue, caso ele utilizasse golpes de karate. A popularidade aumentou e, nas ruas, viam-se pessoas comuns fazerem os mesmos gestos do lutador Fantomas quando desejavam expressar uma superioridade qualquer.

      Com a popularização da palavra karate, devido a técnica utilizada pelo lutador Fantomas, os mestres que estavam no Brasil vislumbraram a possibilidade de ensiná-lo comercialmente, o que até então vinha sendo feito restritamente a seus filhos. Em várias cidades surgiram as primeiras academias do esporte nos diferentes estilos, surgindo também uma incógnita a respeito das graduações desses mestres. Destaca-se que a primeira academia criada no país foi a Brasil Shotokan Karate Dojo” do mestre Mitsuzuke  Harada.       

      Os alunos brasileiros do karate e os mestres procedentes do Japão foram se multiplicando numa progressão geométrica. Tais mestres vinham especialmente para ensinar, atendendo a demanda crescente dos alunos ávidos à aprendizagem desta nova modalidade de luta.                                                                                                                                                            
          Na década de 70, com o lançamento na televisão do seriado semanal dos filmes de kung-fu protagonizados pelo ator norte americano David Carradine e também com a exibição dos filmes de Bruce Lee nos cinemas, o esporte se fortaleceu ainda mais, pois, para os brasileiros, tudo aquilo parecia ser karate. Não se fazia distinção.  Com isso, as matrículas nas academias cresciam tanto que muitos alunos brasileiros já graduados na faixa-preta também foram abrindo novas academias espalhadas pelo território nacional. Junto dessa expansão, foram criadas as federações estaduais para controlar e fiscalizar a prática da arte marcial. Todas essas federações de karate eram filiadas à Confederação Brasileira de Pugilismo - CBP, na qual se criou um departamento especial para tratar exclusivamente dos assuntos do karate.     
                                                                  
2.   O REALINHAMENTO DOS FAIXAS-PRETAS DE KARATE NO BRASIL


 No intervalo de um campeonato brasileiro de karate, o diretor do Departamento Especial de Karate, Fauzi Abdala João, convocou todos os presidentes de federações estaduais presentes ao evento para uma reunião sobre o cadastramento geral de faixas-pretas do Brasil. Quando começou a leitura dos critérios e normas para a consecução deste objetivo, houve discussões acaloradas com intuito de salvaguardar os interesses de cada Federação.

 No tocante a um dos critérios que tratava de rebaixamento de graduação, tive que me posicionar porque eu estava representando o presidente em exercício da Federação Mineira de Karate, Dr. Tércio Naves Sanglard. Fiz uma sucinta explanação, deixando claro que rebaixar a graduação de alguém seria, no mínimo, antiético e desrespeitoso e que a situação poderia ferir direitos adquiridos. Destaquei ainda que, caso o fato chegasse aos Tribunais de Justiça, seria lastimável para um karate em franca expansão. Sugeri que o item rebaixamento fosse substituído por elevação de graduação, o que foi aceito pelos presidentes por unanimidade.

 Prosseguimos nos debates de outros itens, e para finalizar a reunião o diretor do Departamento Especial de Karate, Fauzi Abdala, determinou às Federações que criassem seus próprios critérios e normas, levando-se em consideração a proibição de rebaixar qualquer graduação e de ultrapassar o 8º Dan, ao elevar uma graduação. Após a conclusão desse realinhamento, as Federações deveriam enviar suas relações de faixas-pretas para serem homologadas pela Confederação Brasileira de Pugilismo.

 Com a determinação do diretor do Departamento, o que era uma simples suspeita passou a ser uma certeza de que o rebaixamento proposto prejudicaria a graduação mais elevada da época, ou seja, a de 8º Dan do mestre Yoshihide  Shinzato. Essa graduação eu sempre soube que incomodava alguns mestres de karate.

 Devido ao meu posicionamento contundente naquela reunião, eu que era conhecido apenas no estado de Minas Gerais passei a ser conhecido em todo território nacional, o que para mim foi motivo de orgulho.

 Quando recebi o convite do presidente da Federação Mineira de Karate- FMK, Dr. Marcelo Guimarães Arantes, para ser o Secretario Geral da entidade, eu sabia que teria de enfrentar grandes desafios. Para superá-los contei com a confiança incondicional do presidente da entidade.

  Nessa função fiz amigos e também desafetos. Estes só surgiram depois de implantarmos medidas duras e corajosas que corrigiam erros de gestões passadas como, por exemplo, dar total transparência ao exame de faixas-pretas, facilitando o sistema de avaliação por nota de 0 a 10, o que possibilitaria implantar a média aritmética entre as notas dos examinadores para se chegar à nota mínima para aprovação, que seria cinco.  Ainda com relação ao exame de graduação, a decisão mais acertada e importante foi a de encerrar todos os trabalhos no próprio local de exame, possibilitando ao candidato obter seu resultado antes de deixar o recinto.  Foi um grande avanço na nossa administração, pois acabaram definitivamente com as reclamações a respeito da lisura nos exames de graduação de faixa-preta . 

 Outra atuação marcante foi a respeito do rigor na elaboração dos critérios e das normas para realizarmos, na nossa Federação, o realinhamento na graduação de faixa-preta autorizado pela Confederação Brasileira de Pugilismo, por intermédio do seu Departamento Especial de Karate. Tivemos a preocupação de manter a mesma coerência e senso de justiça que demonstramos na época em que esse Departamento outrora tratara desse tema. Entre os critérios, destacamos o de levar em conta os relevantes serviços prestados ao karate mineiro, e também o de não subir a graduação além de 1(um) grau. Nesse item a única exceção foi a de elevar em 2(dois) graus a graduação do mestre Akyo  Yokoyama que subiu de 6º para 8º Dan, tendo em vista ser este o grau máximo determinado pelo Departamento Especial de Karate da CBP. Mais uma vez saímos na frente e fomos paradigma para outras Federações que vinham nos solicitar assessoria na elaboração dos seus critérios e normas para também realizar o seu realinhamento de faixas-pretas em seus Estados.

3.   O KARATE E SUA PRÓPRIA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA



Marcelo G. Arantes – Juichi Sagara – Teruyuki Okasaki – Luis E. Ribeiro – Eugênio P. Gazinelli

 No ano de 1986, durante um intervalo no 14º Campeonato Brasileiro de Karate realizado em Curitiba, houve uma reunião entre as autoridades do karate para tratar definitivamente da criação da Confederação Brasileira de Karate, porque naquela época existia um grupo dentro do próprio karate liderado pelo mestre Yasutaka  Tanaka, do Rio de Janeiro, contrário à criação da CBK. Nesta ocasião, pela primeira vez, o presidente da Confederação Brasileira de Pugilismo, Armando de Vasconcelos, deu sinal verde para criar uma comissão para iniciar o processo de emancipação do karate da entidade presidida por ele. Assim que terminou o campeonato, a comissão também tinha sido formada e composta por pessoas competentes e voluntárias, até porque todo esse trabalho seria sem ônus para os cofres da CBP. Não foi tão difícil formar essa Comissão porque nesse local estavam os maiores interessados a dar ao karate sua independência, criando sua própria Confederação, a CBK.                 
                                   
      No ano seguinte, precisamente no dia 11 de setembro de 1987, o presidente da Confederação Brasileira de Pugilismo convocou uma reunião na sede da entidade, no Rio de Janeiro, para se inteirar dos resultados dos trabalhos da comissão de criação da CBK. Depois de toda a documentação ter sido analisada e de não ter pairada nenhuma pendência, o presidente da CBP oficializou a criação da Confederação Brasileira de Karate, dizendo que o seu funcionamento pleno só seria possível após a homologação pelo Conselho Nacional dos Desportos- CND, órgão que equivale hoje o Ministério dos Esportes.

       Como forma de dar celeridade aos trâmites naquele Conselho, o presidente da CBP sugeriu que fosse formada de imediato uma Diretoria Provisória para conduzir os trabalhos da nova entidade. Não era novidade para ninguém que iríamos enfrentar uma batalha dura junto ao CND, porque agora se trataria de um órgão de Governo. Facilitaria muito nesses trâmites, caso o karate brasileiro fosse filiado a alguma entidade internacional. Naquela época havia duas entidades em evidência: ITKF (Federação Internacional de Karate Tradicional) com sede nos Estados Unidos e presidida por Hidetaka Nishiyama  e a  WUKO (União Mundial das Organizações de Karate) sediada no Japão  e presidida por Ryoichi  Saswaaka. A WUKO possuía também uma presidência executiva sediada na França, exercida por  Jacques  Delcourt.

 A direção do karate brasileiro optou por filiar-se a entidade internacional WUKO, que caminhava a passos largos para inserir o karate nos jogos olímpicos. Para isso, já se fazia grandes mudanças estruturais principalmente nas regras de arbitragem. Nesse quesito, o Brasil recebeu, em períodos distintos para adequar os caratecas brasileiros às novas regras de arbitragem, os mestres Toru  Arakawa  e  Tadao   Fujimoto, ambos do Japão, e, posteriormente, os americanos George Anderson e Julis Thires, o primeiro, na época, era o presidente da PUKO (União Panamericana das Organizações de Karate).                                                                                               
       O ato prioritário da Diretoria Provisória da CBK foi buscar subsídios para obter a homologação junto ao CND, condição indispensável para que a Confederação Brasileira de Karate se tornasse uma realidade de fato e de direito. Todavia os entraves surgiam há todos os instantes, até que tive a idéia de falar com o presidente da Diretoria Provisória, Hugo Mendes Nakamura, para realizarmos um evento de âmbito nacional e aproveitar para fazer uma homenagem ao presidente do Conselho Nacional dos Desportos- CND.

Daí surgiu a realização da Copa Nacional de Karate Manoel Tubino, porque num evento dessa magnitude jamais o homenageado deixou de estar presente e aí a chance de resolver quaisquer obstáculos seria bem maior.  O presidente da Diretoria Provisória da CBK, Hugo Nakamura, não só concordou com a déia como também me nomeou seu representante legal para organizar e realizar a Copa Nacional Manoel Tubino. 

Para prestar uma homenagem à minha cidade, Araguari -Minas Gerais foi escolhida para sediar o evento por haver grande possibilidade de obter apoio e patrocínio da Prefeitura Municipal e do Batalhão do Exército. Neste, as chances aumentariam sobremaneira pelo fato de eu ser também um militar das Forças Armadas.

 No cargo de Secretário Geral da Federação Mineira de Karate, fui à cidade-sede para fazer os primeiros contatos com as autoridades locais e lá obtive também o apoio e a dedicação incansável do professor Manoel  de  Paula, o pioneiro do karate na cidade de Araguari.
              
Como prevíamos o presidente do Conselho Nacional dos Desportos, Manoel  José Gomes  Tubino, compareceu e se sentiu honrado e muito feliz de ter sido homenageado pela família carateca. Diante disso, junto das autoridades do karate, fizemos uma sucinta exposição de motivos ao presidente do CND, que como conhecedor do assunto em tela, homologou ali mesmo, na cidade de Araguari, a criação da Confederação Brasileira de Karate-CBK.
             
Aproveitando a presença de mais de vinte presidentes de Federações, realizamos a eleição da Diretoria Definitiva da Confederação Brasileira de Karate e elegemos também e por maioria absoluta de votos o Dr. Marcelo Guimarães Arantes, seu primeiro presidente, até então presidente da Federação Mineira de Karate. Portanto, a Confederação Brasileira de Karate-CBK só passou a existir de fato, de direito e com plenos poderesa partir de 10 de junho de 1988, data de sua homologação junto ao Conselho Nacional de Desportos. Com essa homologação, a CBK deixou definitivamente de ser uma entidade provisória.                  
                                                                      
4.   AS LEIS DO KARATE BRASILEIRO




01 -  Luiz Ernani Ribeiro  (relator), 02 - Yoshihide Shinzato, 03 – Koji Takamatsu, 04 - Juichi Sagara, 05 – Marcelo Guimarães Arantes, 06 – Ryuzo Watanabe, 07 – Tokyo Mao, 08 – Sussumi Suzuki, 09 – Sadamu Uriu, 10 – Akio Vokoyama, 11 – Teruo Furushô, 12 – Tomeji  Ito, 13 – José Ricardo Ortiz d’lia, 14 – Yasuyuki Sassaki, 15 –Michizo Buyô, 16 – Hugo Mendes Nakamura, 17 – Massahiro Shinzato, 18 – Pedro Hidekaso Ochiro  e 19 – Edgar Ferraz de Oliveira

          O presidente da diretoria definitiva da CBK, Marcelo Arantes, não perdeu tempo e em seu primeiro ato de gestão foi tentar a filiação da Confederação Brasileira de Karate- CBK ao Comitê Olímpico Brasileiro-COB.

 Em atenção toda especial, o órgão máximo do esporte brasileiro nos informou que o processo de filiação era lento e muito burocrático, mas que a vinculação, a priori, ao COB poderia ser feita de imediato, até porque era a primeira entidade de karate a buscar sua filiação junto ao órgão. Esclareceu ainda que, dentre os documentos exigidos para o processo de filiação, os mais importantes seriam o Estatuto de Criação da CBK e o seu Regimento Interno.
           
 O presidente da Confederação Brasileira de karate - CBK, ciente de que este Regimento ainda não existia, nomeou seu Diretor Administrativo,  Dr. Luiz  Ernani  Ribeiro, para ser o  Relator do regulamento geral do karate, que mais tarde recebeu o nome de Consolidação das Leis  do  Karate -CLK. Recebi essa incumbência com muita tranqüilidade, porque não dizer com muita honra, por fazer parte da equipe que iria elaborar o documento mais importante da Confederação Brasileira de Karate.
  
  Para dar início aos trabalhos sugeri ao presidente que fizéssemos uma reunião no estado de São Paulo onde moravam os mestres mais graduados do karate.  Santos foi a cidade escolhida para sediar essa reunião, uma vez que eu tinha sido aluno do mestre Yoshihide  Shinzato e este era o professor de karate do prefeito daquela cidade, Oswado Justos.                               
                      
        Para reunir os grandes mestres espalhados pelo Brasil, só foi possível com uma logística igual àquela propiciada na cidade de Santos. Nessa reunião, formamos uma sub-comissão  composta somente pelos grandes mestres e coordenada pelo mestre Juichi Sagara, que  se reuniria posteriormente para ouvir e discutir o que cada mestre japonês  gostaria de expor para enriquecer ainda mais o karate brasileiro. O resultado desse trabalho - uma minuta - seria encaminhado ao relator da CLK, Luiz Ernani Ribeiro, para análise. Desta forma, podemos afiançar que saímos exitosos na elaboração da parte técnica da Consolidação das Leis do Karate, doravante partiríamos para elaborar as partes jurídicas e administrativas.  
                                           
           O tempo de finalização e aprovação desta CLK foi relativamente longo, tendo em vista a extinção do Conselho Nacional de Desportos (CND) e a criação, em seu lugar, da Secretaria dos Desportos da Presidência da República cujos novos conceitos e estruturas só aumentavam ainda mais as dificuldades de obter aprovação junto aos órgãos de governo. Para superá-las, tivemos o apoio decisivo e a abnegação do professor Antonio Flavio Testa que se integrou de imediato à nossa equipe de trabalho e, devido o seu trânsito fácil no governo federal, nos levou à presença do Secretário dos Desportos da Presidência da República, Artur Antunes Coimbra - o Zico -, quem se propôs envidar esforços para, em pouco tempo, conseguir a aprovação da Consolidação das Leis do Karate - CLK, o que se confirmou em menos de um ano.
                                                                                                                                         
Exatamente no dia 08 de março de 1991 o karate brasileiro tinha suas próprias Leis em vigor. Então me apresentei ao presidente da Confederação Brasileira de Karate - CBK, Marcelo Arantes, para passar as suas mãos a 1ª via do documento oficial mais importante da Confederação e dizer-lhe que a missão a mim conferida no ano de 1988 estava concluída com êxito.        
                                                                               
              
5. O PRIMEIRO LIVRO DE ARBITRAGEM DO KARATE




Capa do 1o  livro de arbitragem no Brasil
Ainda no ano de 1988, a CBK, em seu primeiro evento, participou do campeonato mundial de karate, na cidade do Cairo-Egito. Esse campeonato teve marco histórico porque colocava em prática a implantação das novas regras de competição voltadas exclusivamente a atender aos anseios de se tornar o karate uma modalidade olímpica. Tanto é verdade que naquele evento o Comitê Olímpico Internacional - COI enviou observadores. 
           
Durante o campeonato, tive a oportunidade de conversar pessoalmente com um deles para me inteirar das verdadeiras chances do karate se tornar uma modalidade olímpica, e ele me disse: “é do conhecimento do Comitê Olímpico Internacional que a popularidade do karate cresce vertiginosamente em todos os continentes, como exemplo posso citar o seu próprio país, o Brasil; sabemos que lá o karate é o segundo esporte que mais cresce, ficando somente atrás do futebol. Quanto à performance dos atletas posso destacar como excelente, mas o karate precisa antes de tudo conseguir sua unificação para superar as demais exigências do COI”, disse  o observador.
          
Pela primeira vez, nos combates foi exigido o uso de protetores de mão e de boca para atender as primeiras exigências daquele Comitê. Nesse Campeonato Mundial participei do curso de arbitragem que me capacitou, ao regressar ao Brasil, a escrever um livro que serviria de fonte de pesquisa para os árbitros brasileiros.
          
Foi aí que o presidente da Confederação Brasileira de Karate (CBK) resolveu apoiar e patrocinar a edição deste livro que serviria de instrumento para o quadro de árbitros da CBK. Esse livro teve uma aceitação maciça em todo o Brasil e serviu de inspiração para o professor  TAKASHI  SHIMO  a escrever também um livro tratando do mesmo tema, ou seja, as regras da arbitragem no karate.  Antes de editar seu livro o professor Takashi me procurou para saber se seria prudente lançar no mercado mais um livro de arbitragem e eu disse a ele que o momento era oportuno, pois meu livro já estava prestes a esgotar sua primeira edição e eu não pretendia lançar outra.

6. DISSIDÊNCIAS NO KARATE BRASILEIRO 
                  
            Com a criação da Confederação Brasileira de Karate-CBK, é interessante ressaltar que ocorreu a cisão no karate, desencadeando dissidências. Consequentemente foram criadas outras Confederações, tais como: a Confederação Brasileira de Karate Tradicional-CBKT; a Confederação Brasileira de Karate Interestilos-CBKI; a Confederação Brasileira de Karate Protector-CKP e outras mais. Das que conheço, todas são legalmente constituídas com base na legislação brasileira.    
            
                                                                                                                            
 7. O KARATE INCENTIVOU ALUNOS A TER NOTAS ALTAS NAS ESCOLAS


Luiz Ernane Ribeiro e alunos do Colégio Militar de Belo Horizonte


         É oportuno esclarecer que, na década de 80, a popularidade do karate  crescia tanto que o seu controle se tornava cada vez mais difícil, chegando ao público brasileiro  a péssima interpretação  de que os praticantes desta arte marcial eram pessoas ignorantes, sem cultura e sem a mínima condição de se integrar à sociedade. Para sair desse universo resolvi, paralelamente à carreira militar, voltar aos bancos escolares e acabei me formando nos cursos de engenharia-mecânica  e educação física na Federal de Minas  Gerais. Depois de concluir esses cursos de nível superior a diferença foi visível, não só no crescimento das matrículas na minha academia como também na minha ascensão aos cargos de direção no karate brasileiro.

 O incentivo aos praticantes de karate a ter notas altas nas matérias curriculares nas escolas começou no Colégio Militar de Belo Horizonte, onde recebi orientação expressa para somente aceitar como aluno de karate aqueles cujas notas fossem as mais altas. Tanto é verdade que o coronel-aluno Alexander Markel Cota Diniz Rodrigues, ou seja, o primeiro colocado no universo de todo o Colégio Militar, era também o mais graduado no curso de karate, galgando a  faixa - preta.  Por essa razão os alunos se dedicavam ainda mais aos estudos para atingir as notas mais altas nas matérias curriculares e com isso serem também premiados  na elevação de suas graduações  no curso de karate.

8.  A MINHA OPÇÃO PARA PRATICAR O KARATE FOI SEQUENCIAL
          

                    Diploma de 9º Dan-Internacional

Aos 15 anos de idade, participei pela primeira vez de uma luta livre profissional em um circo armado numa cidade do interior de Goiás. Anos depois, na cidade de Campo Grande, deixei a luta livre e comecei a praticar o jiu-jitsu, que por sorte tive como professor um discípulo do mestre Helio Gracie, o patriarca do jiu-jitsu no Brasil.Quando fui morar na cidade de Belo Horizonte comecei meus primeiros passos no karate com o mestre Akyo  Yokoyama. Depois quando fui residir em São Paulo tive de mudar de estilo porque aquele que eu praticava em Minas Gerais não foi possível dar prosseguimento
          Entre tantos mestres, identifiquei-me com o estilo praticado pelo mestre Yoshihide  Shinzato, que me acolheu em sua academia respeitando a minha graduação da época. Paralelamente à prática do karate iniciei no tae kon-do, porque acabara de chegar ao Brasil o mestre Sang  Mi  Sho, que escolheu o quartel do Exército onde coincidentemente eu trabalhava, para implantar esta arte marcial coreana.
 Por já ser graduado na faixa preta- 4º Dan de karate, o mestre Sang Mi Sho me designou como seu auxiliar direto para as aulas dos oficiais e dos sargentos. Em razão disso e com o passar do tempo ele foi me graduando e repassando técnicas avançadas para que eu no futuro viesse substituí-lo como professor naquela unidade militar.

Anos mais tarde fui transferido novamente para Belo Horizonte e devido a tantos conhecimentos adquiridos em outras artes marciais como também em outros estilos de karate, resolvi prosseguir sozinho no karate, buscando os cursos de aperfeiçoamento técnico independentemente de mestres e estilos, como estes ministrados pelos seguintes mestres: Hidetaka Nishiyama (aluno de Ginchin Funakoshi, o fundador do karate); Masatoshi Nakayama (aluno de Funakoshi); Teruyuki Okazaki (aluno de  Funakoshi); Fusajiro Takagi ( Diretor Geral da WUKO – União Mundial das Organizações de Karate); Hirokazu Kanazawa (presidente da Federação Internacional de Karate Shotokan);Katsuya Miyahira  (presidente mundial do estilo Shorin-Ryu Karate); e com os mestres residentes no Brasil Juichi Sagara, Sadamu Uriu, Takeo Suzuki, Ryuzo Watanabe, Yoshihide Shinzato e outros.

Com os conhecimentos adquiridos nesses cursos técnicos busquei as entidades legalmente constituídas para auferir minhas graduações, que me promoveram ao 9º Dan. Esta graduação coloco como secundária, diante do meu 7º Dan reconhecido pela Nihon Karate Kyokai (Associação Japonesa de Karate), uma vez que esta instituição tem notoriedade em qualquer parte do mundo.       
                                      
         Participei de campeonatos de karate aqui no Brasil e também na Argentina, Paraguai, Chile, Venezuela, Costa Rica, Curaçao, Porto Rico, México, Estados Unidos, Canadá, Egito, Hungria, Ucrânia (antiga União Soviética) e Japão. De todos esses campeonatos o destaque fica em Buenos Aires, Argentina, de onde conseguimos sair com o título de campeão mundial.                                                                                                                                             
         Das funções que desempenhei, a que reputo de grande importância, foi a de viajar por todo o Brasil para fiscalizar o cumprimento das normas padronizadas para exames de faixas- pretas, de acordo com a Consolidação das Leis do Karate (CLK), pois como relator dessas leis o trabalho estaria bastante simplificado e transparente. Ainda nessas viagens acumulava-se também a incumbência de qualificar e classificar os árbitros para compor o quadro nacional de arbitragem da CBK, até porque como autor do livro de regras de arbitragem, esse trabalho teria uma credibilidade inquestionável. Posso destacar como função mais significativa foi a de ser designado como instrutor para ensinar o karate nas Forças Especiais do Exército, oportunidade única para aplicar todos os meus conhecimentos adquiridos ao longo dos anos. 

Uma geração começando e outra terminando