O KARATE E SUA PRÓPRIA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA


 .



Marcelo G. Arantes – Juichi Sagara – Teruyuki Okasaki – Luis E. Ribeiro – Eugênio P. Gazinelli

 No ano de 1986, durante um intervalo no 14º Campeonato Brasileiro de Karate realizado em Curitiba, houve uma reunião entre as autoridades do karate para tratar definitivamente da criação da Confederação Brasileira de Karate, porque naquela época existia um grupo dentro do próprio karate liderado pelo mestre Yasutaka Tanaka, do Rio de Janeiro, contrário à criação da CBK. Nesta ocasião, pela primeira vez, o presidente da Confederação Brasileira de Pugilismo, Armando de Vasconcelos, deu sinal verde para criar uma comissão para iniciar o processo de emancipação do karate da entidade presidida por ele. Assim que terminou o campeonato, a comissão também tinha sido formada e composta por pessoas competentes e voluntárias, até porque todo esse trabalho seria sem ônus para os cofres da CBP. Não foi tão difícil formar essa Comissão porque nesse local estavam os maiores interessados a dar ao karate sua independência, criando sua própria Confederação, a CBK.                 
                                   
      No ano seguinte, precisamente no dia 11 de setembro de 1987, o presidente da Confederação Brasileira de Pugilismo convocou uma reunião na sede da entidade, no Rio de Janeiro, para se inteirar dos resultados dos trabalhos da comissão de criação da CBK. Depois de toda a documentação ter sido analisada e de não ter pairada nenhuma pendência, o presidente da CBP oficializou a criação da Confederação Brasileira de Karate, dizendo que o seu funcionamento pleno só seria possível após a homologação pelo Conselho Nacional dos Desportos- CND, órgão que equivale hoje o Ministério dos Esportes.

       Como forma de dar celeridade aos trâmites naquele Conselho, o presidente da CBP sugeriu que fosse formada de imediato uma Diretoria Provisória para conduzir os trabalhos da nova entidade. Não era novidade para ninguém que iríamos enfrentar uma batalha dura junto ao CND, porque agora se trataria de um órgão de Governo. Facilitaria muito nesses trâmites, caso o karate brasileiro fosse filiado a alguma entidade internacional. Naquela época havia duas entidades em evidência: ITKF (Federação Internacional de Karate Tradicional) com sede nos Estados Unidos e presidida por Hidetaka Nishiyama e a WUKO (União Mundial das Organizações de Karate) sediada no Japão e presidida por Ryoichi Sasakawa. A WUKO possuía também uma presidência executiva sediada na França, exercida por Jacques Delcourt.

 A direção do karate brasileiro optou por filiar-se a entidade internacional WUKO, que caminhava a passos largos para inserir o karate nos jogos olímpicos. Para isso, já se fazia grandes mudanças estruturais principalmente nas regras de arbitragem. Nesse quesito, o Brasil recebeu, em períodos distintos para adequar os caratecas brasileiros às novas regras de arbitragem, os mestres Toru Arakawa e Tadao Fujimoto, ambos do Japão, e, posteriormente, os americanos George Anderson e Julis Thires, o primeiro, na época, era o presidente da PUKO (União Panamericana das Organizações de Karate).                                                                                               
       O ato prioritário da Diretoria Provisória da CBK foi buscar subsídios para obter a homologação junto ao CND, condição indispensável para que a Confederação Brasileira de Karate se tornasse uma realidade de fato e de direito. Todavia os entraves surgiam há todos os instantes, até que tive a idéia de falar com o presidente da Diretoria Provisória, Hugo Mendes Nakamura, para realizarmos um evento de âmbito nacional e aproveitar para fazer uma homenagem ao presidente do Conselho Nacional dos Desportos- CND.

Daí surgiu a realização da Copa Nacional de Karate Manoel Tubino, porque num evento dessa magnitude jamais o homenageado deixou de estar presente e aí a chance de resolver quaisquer obstáculos seria bem maior.  O presidente da Diretoria Provisória da CBK, Hugo Nakamura, não só concordou com a déia como também me nomeou seu representante legal para organizar e realizar a Copa Nacional Manoel Tubino

Para prestar uma homenagem à minha cidade, Araguari -Minas Gerais foi escolhida para sediar o evento por haver grande possibilidade de obter apoio e patrocínio da Prefeitura Municipal e do Batalhão do Exército. Neste, as chances aumentariam sobremaneira pelo fato de eu ser também um militar das Forças Armadas.

 No cargo de Secretário Geral da Federação Mineira de Karate, fui à cidade-sede para fazer os primeiros contatos com as autoridades locais e lá obtive também o apoio e a dedicação incansável do professor Manoel de Paula, o pioneiro do karate na cidade de Araguari.
              
Como prevíamos o presidente do Conselho Nacional dos Desportos, Manoel José Gomes Tubino, compareceu e se sentiu honrado e muito feliz de ter sido homenageado pela família carateca. Diante disso, junto das autoridades do karate, fizemos uma sucinta exposição de motivos ao presidente do CND, que como conhecedor do assunto em tela, homologou ali mesmo, na cidade de Araguari, a criação da Confederação Brasileira de Karate-CBK.
             
Aproveitando a presença de mais de vinte presidentes de Federações, realizamos a eleição da Diretoria Definitiva da Confederação Brasileira de Karate e elegemos também e por maioria absoluta de votos o Dr. Marcelo Guimarães Arantes, seu primeiro presidente, até então presidente da Federação Mineira de Karate. Portanto, a Confederação Brasileira de Karate-CBK só passou a existir de fato, de direito e com plenos poderes, a partir de 10 de junho de 1988, data de sua homologação junto ao Conselho Nacional de Desportos. Com essa homologação, a CBK deixou definitivamente de ser uma entidade provisória.